A COMIDA E O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO HUMANO
Os humanos possuem mais neurônios no cérebro do que qualquer outro primata. São aproximadamente 86 bilhões, em média, comparados com 33 bilhões nos gorilas e 28 bilhões nos chimpanzés. Enquanto esses neurônios a mais nos trazem muito benefícios, eles têm um custo – nosso cérebro consome 20% da energia do corpo em descanso, comparado com 9% nos outros primatas. Isso gera um grande enigma... Como os nossos ancestrais conseguiram essa energia adicional para expandir seus cérebros?
Num estudo publicado recentemente e que está fazendo sucesso no mundo todo, Suzana Herculano-Houzel, uma das mais famosas neurocientistas brasileiras e co-autora do estudo, calculou o consumo de energia metabólica dos cérebros de primatas e humanos e, comparando com a dieta de cada animal, concluiu que o grande responsável pelo desenvolvimento do cérebro humano foi o fato de nós termos aprendido a cozinhar a comida.
As pesquisadoras descobriram que o tamanho do cérebro está diretamente relacionado à quantidade de neurônios e, também, que a quantidade de neurônios está ligada à quantidade de energia necessária para alimentar o cérebro. Então,se os humanos se alimentassem de comidas cruas, como fazem os demais primatas, teríamos que passar mais de 9 horas por dia só comendo para obtermos energia suficiente para mantermos nossos grandes cérebros. Já o cozimento da comida torna mais fácil e eficiente para o nosso sistema digestivo absorver calorias, e o faz de maneira mais rápida.
Essa ideia central foi originalmente proposta pelo pesquisador Richard Wrangham em seu livro “Pegando Fogo – Por que cozinhar nos tornou humanos”. Ele argumenta que o controle do fogo permitiu aos primeiros hominídeos (ancestrais dos humanos) a não apenas cozinhar a comida, mas também se manterem aquecidos, possibilitando a perda dos pelos no corpo, o que os fez correr mais rápido sem superaquecer. Também os fez desenvolver personalidades mais calmas, permitindo o surgimento de estruturas sociais, e até relacionamentos entre homens e mulheres. Em resumo, tornar-se humanos.
Como já foi discutido em artigos anteriores, a socialização exige bastante do nosso cérebro, o que também forçou nossos ancestrais a desenvolverem cérebros maiores e, consequentemente, consumirem mais calorias para mantê-los.Foi demonstrado que o contato social pode exigir tanto do cérebro quanto uma sessão de ginástica para o cérebro.
Atualmente a ciência tem feito muitas descobertas sobre o efeito da alimentação no cérebro, recomendando dietas ricas em ômega-3 e outros nutrientes, que podem mantê-lo saudável e longe de doenças. Há até recomendações para se comer menos ou até se fazer jejuns intermitentes.
Se o simples cozimento da comida permitiu que nosso cérebro evoluísse, ao longo de mais de um milhão de anos, para um tamanho quase três vezes o de um gorila, imaginem só o que nos aguarda no futuro.